Imagine que você ouve uma notícia: “A incidência da doença X aumentou”. Mas o que isso realmente significa? Ou então: “A letalidade caiu para 2%”. Qual é a diferença entre letalidade, mortalidade, prevalência? Por que devemos nos importar? Neste post, vamos explicar, de forma simples e direta, quatro indicadores essenciais da epidemiologia — e mostrar por que, às vezes, suas interpretações comuns enganam.
1. Incidência: o que está surgindo agora
“Incidência” refere-se à quantidade de novos casos de uma doença — ou seja: quem ficou doente agora, num período determinado. archive.cdc.gov+2Biblioteca Nacional de Medicina+2
Por exemplo, se numa cidade de 100 000 pessoas surgem 500 casos de gripe num mês, a incidência naquele mês é de 500/100 000 = 0,5%.
Por que isso importa? Porque a incidência mostra a velocidade com que a doença está se espalhando ou aparecendo. É o alerta de “atenção: está começando algo”.
Um detalhe contra-intuitivo: a incidência pode estar diminuindo, mas ainda haver muitos casos ativos — isso não significa que a doença “suma”, apenas que o ritmo de novos casos caiu.
“Incidence is the number or proportion of new cases … during a specified time period.” Lumen Learning+1
Em outras palavras: se queremos agir cedo, monitoramos a incidência.
2. Prevalência: o que temos agora
“Prevalência” é diferente: refere-se ao total de casos presentes (novos + antigos) em uma população, num dado momento ou período. Lumen Learning+1
Usando o mesmo exemplo: se na cidade de 100 000 pessoas há 2 000 pessoas que têm gripe (novos ou não) num determinado dia, a prevalência pontual é 2 000/100 000 = 2%.
Por que isso importa? Porque a prevalência mostra o fardo da doença — quantas pessoas estão vivendo com essa condição. Para doenças crônicas ou condições de longa duração, prevalência costuma ser alta mesmo se incidência for baixa.
Um insight interessante: uma doença pode ter incidência baixa, mas prevalência alta, se os pacientes viverem muito tempo com ela ou se for difícil curar. Isto afeta recursos de saúde, planejamento, políticas.
“Prevalence is the number, or proportion, of individuals with a particular illness in a given population at a point in time.” Lumen Learning
Resumo rápido: incidência = novos casos, prevalência = casos existentes.
3. Mortalidade: quantos morrem em uma população
Quando falamos de “mortalidade”, temos em vista a frequência de mortes (por todas as causas ou por uma causa específica) numa população durante um certo período. archive.cdc.gov+1
Por exemplo: se numa população de 100 000 pessoas ocorrem 800 mortes por uma doença em um ano, a taxa de mortalidade é 800/100 000 = 0,8% por ano.
Por que isso importa? Porque a mortalidade traduz risco geral de vida e efeito de uma doença sobre a sociedade. Alta mortalidade = impacto elevado.
Contra-intuitivo: uma doença pode ter alta prevalência (muita gente vive com ela) e baixa mortalidade (poucas pessoas morrem) — o que torna o manejo diferente de uma doença com incidência alta e mortalidade alta.
Entender mortalidade ajuda a comparação entre populações, avaliar o progresso de saúde pública, ver onde os cuidados são mais urgentes.
4. Letalidade (case-fatality rate): quão grave é quem adoece
“Letalidade”, ou mais exatamente taxa de letalidade de casos (case-fatality rate, CFR), mede entre aqueles que têm a doença, quantos morrem por ela, num certo período. Encyclopedia Britannica+1
Por exemplo: se numa doença 300 pessoas foram diagnosticadas e 90 morreram, a letalidade é 90/300 = 30%.
Por que isso importa? Porque mostra a gravidade da doença e a eficácia do tratamento ou resposta de saúde. Alta letalidade = doença mais perigosa para quem pega.
Um alerta: a letalidade não é igual à mortalidade. Mortalidade considera toda a população; letalidade considera só os casos. A confusão entre os dois pode levar a conclusões erradas.
Exemplo de citação:
“Case fatality rate … is the proportion of people who die from a specified disease among all individuals diagnosed with the disease during that time.” Encyclopedia Britannica
Como reflexão: mesmo se a incidência cai, se a letalidade permanece alta — ou piora — a doença continua sendo uma ameaça séria.
Conclusão: por que isso tudo importa para você?
Agora que vimos os quatro indicadores – incidência, prevalência, mortalidade e letalidade – você está melhor equipado para ler e interpretar os números que aparecem nas notícias ou relatórios de saúde. Eles não são apenas estatísticas frias; são pistas de onde a doença está, como ela age, e o que precisamos fazer.
E a pergunta final que deixo: qual indicador você acha que é mais importante para a “resposta rápida” em uma epidemia — e por quê? Pense nisso na próxima vez que ver uma manchete anunciando “incidência disparou” ou “letalidade caiu”.
Quer que eu monte também uma tabela comparativa simples desses indicadores, ou até mesmo exemplos reais brasileiros para cada um?

